relato de parto da Nara

relato de parto da Nara

bs. : este é um relato enorme e detalhado, com as diversas reflexões que fizemos ao longo do processo. caso você só queira ler sobre o momento do parto, pule para a “parte VI – o parto”. )

PARTE I – O BRASIL

O Brasil é lindo, repleto de prendas exuberantes como o caju, a araucária e a paçoquinha, porém ao mesmo tempo o Brasil é tanta encrenca que é só você se informar minimamente sobre um assunto que, dependendo do estilo do seu sistema nervoso, já está a um passo de se tornar ativista de uma nova causa. Antes de engravidar, eu não sabia nada sobre , nem que o risco de sofrer esse tipo de  é alto por aqui, tanto na rede pública quanto na rede privada de saúde. Assim que comecei a pesquisar, entendi que do pré-natal ao parto e pós-parto há uma série de procedimentos que médicos e enfermeiras adotam como rotina do atendimento à gestante de forma totalmente despropositada, ofensiva e, muitas vezes, criminosa. Há mulheres que foram vítimas de violência obstétrica e nem sabem. Exemplos de práticas adotadas indiscriminadamente são: a mentira, o engano, a lorota, a cascata e a falácia – a grávida chega ao consultório querendo parto normal, o médico diz “sim com certeza”, mas não vale a pena pra ele acompanhar um parto normal – os valores pagos pelos planos de saúde são indecentes, falta experiência, não é conveniente, vem vindo um feriado – então, no decorrer do pré-natal, vão surgindo “defeitos” no corpo da mulher, que está muito gorda ou muito magra ou com muito líquido ou pouco líquido ou a bacia é estreita ou o bebê é muito grande ou muito pequeno ou está sentado ou com cordão enrolado ou são gêmeos ou a placenta está velha logo ““, sendo que, na maioria dos casos, não, não precisamos.

O Brasil é um dos recordistas em cesarianas no mundo, são 52% dos nascimentos no sistema público de saúde e 88% na rede privada, quando a Organização Mundial de Saúde recomenda 15%. Então, se você não quer uma cesariana sem necessidade, tem que buscar uma equipe humanizada pra te acompanhar – ou confiar na sorte, se gostar de jogos do tipo roleta russa. É claro que partos normais ainda acontecem, mas aí é que entram os tantos procedimentos “de rotina” sem nenhum respaldo científico que só servem para transformar o parto num momento de tortura: deitar a mulher de pernas abertas na maca, impedindo-a de se posicionar como bem entender (a clássica posição ginecológica é boa para a visão dos médicos e pavorosa para a mulher); pedir para a mulher não gritar durante as contrações; proibir a presença do pai do bebê, da doula ou de outro acompanhante escolhido por ela; realizar lavagem intestinal, tricotomia (raspagem dos pelo pubianos), episiotomia (corte entre a vagina e o ânus para a passagem do bebê); empurrar a barriga para forçar a descida do bebê; tirá-lo de perto da mãe após o nascimento, entre outros, todos desnecessários, doloridos e prejudiciais, a curto, médio e longo prazo.

Estas interferências – que transformam o parto numa experiência traumática e podem causar depressão e dificuldades em cuidar do recém-nascido, além de problemas em lidar com a sexualidade – partem todas de um mesmo princípio furado: o de que o parto não é da mulher, ela não sabe de nada, o que ela sente não vale nada, é preciso que os “especialistas” assumam as rédeas do processo para “salvar” o bebê. Oras, as pessoas estão nascendo há algum tempo, talvez 150 mil anos. A obstetrícia vem se desenvolvendo há cerca de 50/60 anos e trouxe descobertas maravilhosas (entre elas, a cesariana, quando realmente necessária), que vencem problemas antes insolúveis e salvam vidas. Mas se a mulher está bem, com uma gravidez saudável e de baixo risco, não tem cabimento alguém ficar enfiando a mão. Ela não precisa ser tratada como uma ignorante, nem tomar hormônios sintéticos que podem ser produzidos naturalmente – ainda mais se souber dos benefícios para ela e seu bebê em deixar que o processo natural aconteça. Há opções para aliviar as dores que não deixam a mulher dopada e insensível. Se ela estiver livre para ficar na posição em que quiser, receber massagens, entrar na água e ter o apoio de pessoas queridas, pode se conectar com o próprio corpo e a própria força, ter um parto ativo, sentir o nascimento de seu bebê e o seu nascimento como mãe. If you want something in the middle at an aggressive price and don’t care about all of apple’s frills kindle fire is going to have the market almost all to itself. Era isso que eu queria – e então começou a busca.

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