A história de Marcos e Camila

A história de Marcos e Camila

Meu relato de parto começa no momento no qual eu disse para a Camila: “Vamos procurar uma segunda opinião”. Eu como pai estava 100% insatisfeito com os rumos que o parto do Gael tomava. Eu realmente não gostava da posição da antiga obstetra da Camila. Eu não pensava em detalhes de anestesia, episio, etc, mas simplesmente no fato de que a médica não queria ouvir a vontade da Camila. Sem contar que ela quase “gongou” nossa viagem pré-parto, não sabia o que era Doula e nem usava iphone!

Mudar era uma necessidade. Abrir uma janela. Foi assim que conhecemos primeiro a Cris Balzano e em seguida o Jorge. Foi uma semana cheia de encontros. Vários amigos contaram que seus filhos chegaram a este mundo pelas mãos da dupla e, do quanto eles eram especiais. Foi com esta curta trajetória que chegamos na Casa Moara e na primeira consulta com o Jorge. A propósito, com todo o respeito farei todas as referências ao Dr Jorge Kuhn como apenas Jorge, uma forma mais próxima e humana, sem a distância dos títulos. Acho que ele merece.

Ao sairmos da primeira consulta o clima era de uma mistura de êxtase e silêncio. Falarei por mim. Todas as palavras, vírgulas e pausas que ouvi do Jorge fizeram sentido. Era natural que aquela nova abordagem correspondia a todos os nossos desejos. Meus inclusive.

Vou confessar, pois isso deve passar na cabeça de vários pais, que inicialmente, durante alguns segundos o custo do parto me assustou. Isso não durou mais do que segundos. Eu pensei que gastamos tanto dinheiro em coisas bestas, investimos em viagens, carros, e agora, na hora de garantir um parto tranquilo para minha mulher e meu filho eu ficaria pensando em dinheiro? Hoje sei que foi o melhor dinheiro gasto na minha vida até hoje.

A partir daquela consulta o assunto parto passou a fazer parte da minha vida de forma intensa e verdadeira. A idéia de ter um parto ativo me transformou num pai ativo. Até então, com a outra médica, eu seria “o cara que fica segurando a câmera”.

Começamos então com as aulas de yoga da Cris (foi outro fator muito importante de imersão). Depois foram os encontros na Casa Moara. Aqui faço um parênteses. Durante os encontros percebemos o tamanho da tranquilidade que nos dominou apenas por termos ao nosso lado o Jorge, a Cris e o Douglas. Todos os problemas trazidos aos encontros
pareciam distantes para nós pois a equipe deveria cuidar de tudo. E cuidaram!

Mesmo com toda esta super equipe eu tinha várias dúvidas silenciosas, Como eu lidaria com a dor da Camila? Eu conseguiria ser duro na chegada no Hospital, afinal eu teria que entrar chutando e gritando para se afastarem dela? Eu teria forças durante o trabalho de parto para auxiliar a Camila? Eu lembraria de tudo que aprendemos nos encontro, na leitura dos gigabytes de material da Casa Moara, das horas de vídeos sobre partos no youtube, muitas dúvidas.

O PARTO Era 25 de outubro, aproximadamente 20:50, eu estava em casa trabalhando e bebendo um whiskey quando a Camila me telefonou e disse: “a bolsa estourou”. Ela estava no shopping com um cliente comprando móveis.

Ao desligar o telefone eu fiquei numa tremenda paz. Todas as dúvidas se dissiparam e eu entrei num momento especial. Fui tomar banho, preparei nossa lista de música para o parto (escolhemos uma seleção de músicas do Krishna Das, recomendo), reduzi a luz da casa, e deixei tudo pronto.

A partir da chegada da Camila tentei ao máximo, e acho que consegui, me envolver em cada contração, em cada pedacinho de dor. Sempre lembrávamos que a dor era necessária para trazer o Gael. Respirávamos juntos.

Aproximadamente as 00:00 a Cris (doula) chegou em casa. Este momento para mim foi muito especial pois nos trouxe a tranquilidade necessária para encarar as próximas horas.

A Camila pediu para ir para o São Luiz as 04:30 pois não queria ter contração em pleno trânsito de São Paulo. Lembramos do depoimento de nosso amigo Lucas que passou este sufoco. Não queríamos isso. Chegamos ao Hospital com a Cris e meu irmão Marcelo, convocado para cuidar da parte burocrática da internação. Isso foi muito bom pois me permitiu ficar 100% do tempo com a Camila. Era uma vontade dela descrita no Plano de Parto.

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Ao entrarmos na admissão meu nível de tranquilidade aumentou acima dos 100% pois as enfermeiras e médicas plantonistas receberam a Cris de forma calorosa. Naquele momento muitos medos em relação à equipe do hospital se dissiparam.

Fomos para a sala delivery, eu me troquei e fiquei por alguns minutos sozinho com a Camila. Ali a coisa começou. Foi um momento muito especial. A cada contração da Camila eu ficava mais feliz. Eu estava muito focado na dor e na respiração dela. Acho até que eu deveria ter ficado mais descontraído. Num primeiro momento me puni no pensamento, achando que eu estava tenso e tímido, mas depois percebi que eu estava muito dentro da onda dela. Ela já tinha chegado na famosa Partolândia e eu estava ali de camarote. Lembrei da descrição do Jorge e da cris sobre a Partolândia e ela era linda igual eles descreveram. Eu me senti útil, lembrando a respiração, posições e até uma da yoga bem engraçada. Teve uma hora que a dor da Camila estava intensa e a Cris afirmou que aquela dor era a maior, que daquele patamar não seria passaria. Isso foi libertador, para ambos. Para a Camila foi a chave para esquecer a palavra anestesia. Considero que a Camila superou a dor sem anestesia graças a estas palavras da Cris.

Logo em seguida chegou Jorge. Sorridente, calmo, seguro. Lembrando hoje, é impressionante a carga de energia positiva que ele e a Cris possuem. Ele fez carinho na Camila, sempre sorrindo, depois uma breve avaliação e a constatação de que na banheira o Gael não nasceria.

Neste momento veio o lance de ouro do Jorge. Ele disse para a Camila que o nascimento ainda demoraria algum tempo, mas que ele poderia fazer uma manobra. Quem sabe, sabe. Na próxima contração ele deu um “toque” de mestre e facilitou os últimos milímetros de dilatação que seguravam o Gael. Foi um alívio geral. Agora era só nascer (fácil).

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Chegamos finalmente no expulsivo. Era a hora de mostrar todo nosso treinamento com o epi-no, massagens, yoga, respiração, etc. O local escolhido foi a famosa e querida banqueta. Me posicionei atras da Camila e servi de “apoio” para colocar toda a sua força no nascimento do Gael. E que força (pensei que ela arrancaria meu pescoço antes do meu filho nascer, mas felizmente ele nasceu antes). Neste momento juro que nunca vi a Camila com tanto foco, energia e determinação. Não vi sinais de dor, mas de alegria e vontade dela fazer cada vez mais força. Foi um momento de emoção muito forte. Tudo aconteceu rápido. Quando acordei, a Cris já estava colocando o Gael em nosso colo, o Douglas já estava de olho nele, e eu…chorando claro. Vários mls de lágrima caíram no Gael.

Para finalizar, entra em cena, outro gigante, Douglas, o neonatologista encantador de bebes. Tudo aquilo que ouvimos a respeito dele pelo Jorge e pela Cris era verdade. Ele é o cara para receber seu filho no mundo. O mesmo brilho nos olhos, a mesma naturalidade e respeito em fazer simplesmente o que tinha que ser feito.

Vale ressaltar que a equipe inteira do São Luiz ao saber que estávamos com a equipe da Casa Moara oferecia um tratamento de muito respeito, seguindo todas as diretrizes passadas por nossa equipe. Isso se manteve após o parto, com toda a equipe de enfermeiras do berçario e dos quartos respeitando 100% das prescrições do Douglas. Mais uma vez me senti seguro.

Resumindo, foi um prazer me tornar pai desta forma. Para nós o parto não foi só da mulher, foi da família, meu também. Cada um com seu papel. Desde o primeiro encontro com o Jorge eu me entreguei para a preparação da Camila e busquei o meu melhor. Tivemos um parto maravilhoso, forte, rico, graças à tranquilidade e segurança que tivemos na equipe. Eu fiquei realizado pois nosso parto foi recheado de pessoas do bem, independente de seus títulos acadêmicos, cercado de uma energia altamente positiva. Em algum momento após o parto eu escutei alguém na sala dizer assim: Fazemos isso tantas vezes e é impossível não ficar emocionado. Não sei se foi o Jorge, a Cris ou o Douglas, mas foi assim que aconteceu comigo.

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